«Calendário» regressa a casa

O calendário flamengo de Pieter Balten (conjunto de 12 quadros, pintados em Antuérpia, cerca de 1580) está de regresso a Miranda do Douro, onde – em breve – irá integrar o núcleo museológico da Concatedral de Miranda do Douro.

Após exposição itinerante pela Biblioteca Municipal de Ourense (Galiza), Museu Nacional de Arte Artiga (Lisboa) e Museu de Lamego, o calendário flamengo de Pieter Balten está de regresso a Miranda do Douro, onde – em breve – irá integrar o núcleo museológico da Concatedral de Miranda do Douro.

Cumpre-se, assim, o objetivo de valorizar o Património artístico mirandês, pondo a tónica na investigação, na conservação e na divulgação, fazendo com que o “Calendário de Miranda” esteja acessível à visita de todos.

Os Retratos dos Meses da Concatedral de Miranda do Douro, conjunto de doze quadrinhos vulgarmente chamado Calendário, constituem exemplo raríssimo de uma iconografia praticamente ausente no património artístico nacional.

Foram pintados em Antuérpia, cerca de 1580, na oficina do mestre pintor Pieter Balten (1527-1584), artista muito considerado, amigo e parceiro do célebre Pieter Brueghel, o Velho (1525-1569).

Pensa-se que foram adquiridas (ou encomendadas) no mercado antuerpiano por parte do Bispo D. Jerónimo de Menezes, que governou a Diocese de Miranda entre 1581 e 1592, depois de ter sido Reitor da Universidade de Coimbra, sabendo-se ter efetivamente comprado algumas pinturas para a sua Sé. Cada figura alusiva a um Mês ostenta atributos de trabalho agrícola e traços da vivência rural segundo um repertório que remete para a tradição da grande «pintura de género» dos Países Baixos.

Em termos iconográficos, a figuração dos Meses trai reminiscências gentílicas que mergulham na Antiguidade Clássica com exemplos relevantes na arte greco-romana, dando lugar, já em contexto cristianizado, a notáveis representações tanto nos Livros de Horas medievais como na pintura «de género» do século XVII.

Em termos iconológicos, os quadros assumem um discurso de harmonização do mundo em estreita relação com a simbologia astrológica, sem deixarem de ser quadros devocionais no seu mais exato sentido. Traduzem, assim, uma espécie de interação entre os planos real e simbólico que contribui para todo o tipo de especulações cosmológicas sobre a regeneração do universo, tema tão caro tanto à Igreja Católica como aos círculos da Igreja protestante.

A escolha da série adquirida mostra a atualização de gosto dos Bispos de Miranda do Douro, que chegaram a possuir uma pinacoteca capitular com mais de uma centena de peças: no ano de 1720 contavam-se nessa galeria 127 quadros, sacros e profanos, de que apenas sobreviveram duas dezenas.

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